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I will always love you

por ss, em 19.02.12

 

 

 

Há seres que se encontram neste mundo e que jamais se separam. Mesmo que nasça um oceano entre eles, ou mesmo que uma tempestade os faça seguir caminhos diferentes, há amores que nascem para serem eternos.

E sim, a perfeição existe! Existe, porque quando nos apaixonamos, tudo no outro é perfeito. Porque os seus defeitos encaixam nas nossas virtudes. É como se de algum modo houvesse uma compensação recíproca, que no final origina um círculo totalmente preenchido, e mais que perfeito!

Oh meu amor! Foi o teu doce sorriso que me conquistou! Esse sorriso doce, terno, misterioso. Como poderia eu fugir desse sorriso, que transportava uma alegria intensa de viver? Que importava o resto do mundo, se apenas tu fazias feliz o meu mundo? E foram tantas as batalhas que travámos, e tantas as pessoas que calámos! Afinal, o Amor, quando verdadeiro, vence tudo!

Tenho saudades tuas! Como poderia eu não ter saudades? Sinto tanta falta do teu cheiro a rosas, sinto tanta falta de tocar a tua pele macia, sinto tanta falta de ouvir as tuas palavras serenas. Sinto tanta falta dos teus abraços, dos teus beijos, das tuas carícias. Sinto tanto, mas tanto a tua falta…

Desde que partiste, nunca mais amei ninguém! O meu coração foi só teu, e será só teu! Eu entreguei-to, e, por isso, onde quer que estejas, ele está contigo! A verdade é que sem a tua presença a minha vida tornou-se tão vazia. Apenas o meu corpo se mantém vivo, porque tudo o resto morreu no dia em que tu deixaste de existir fisicamente.

O fruto do nosso amor já está crescido! A nossa filha compreenderá a minha decisão! Afinal, ela todos os dias olha para os meus olhos e vê neles a solidão e a tristeza que sinto! Ela sabe, que a tua ausência me matou, e me tem matado segundo a segundo. Sem ti, a minha vida perdeu a cor, porque foste tu que deste cor aos meus dias cinzentos.

Sinto que é chegada a hora de voltar a aninhar-me nos teus braços. Afinal, eram eles que me acolhiam nos momentos mais difíceis.

 Meu amor! Eu quero voltar a sentir o sabor a mel dos teus lábios, quero voltar a perder-me nos teus olhos de avelã, e quero sentir o cheiro dos teus cabelos encaracolados, cor de trigo. Quero voltar a ver esse teu sorriso, e quero limpar as tuas lágrimas de felicidade por me teres novamente ao teu lado. Quero passear contigo de mãos dadas. Quero que oiças os meus segredos, e quero que partilhes comigo as tuas lamúrias e os teus medos. Quero discutir contigo a lista de compras do supermercado, e as tarefas domésticas que fazes questão de me atribuir. E quero que me digas que te irrito quando não faço o que tu queres, e que a seguir me sorrias como uma adolescente, dizendo que me perdoas. Quero voltar a fazer amor contigo, sentir a tua pele macia tocar a minha! Quero pertencer-te, e quero que me pertenças por inteiro. Quero dizer-te que sempre te amarei, e que só junto de ti faço sentido! Por fim, quero adormecer com a tua cabeça repousada no meio peito, com a certeza de que, quando acordar, os nossos corações baterão juntos.

 

 

 

 
"And I, will always love you"
 
 

Texto escrito para a Fábrica de Histórias

 

 

 

 

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Madalena!

por ss, em 10.02.12
 
 
 

 

Afinal todos somos seres frágeis. Independentemente de toda a força que insistentemente fazemos questão de mostrar, ou que efectivamente tenhamos, a verdade é só uma: há momentos na vida em que todo esse poder nos escorrega das mãos, e em que apenas nos resta continuar a fingir que vivemos.

 

 

Nunca a tinha visto por ali, mas a sua presença não me deixou indiferente. E a minha curiosidade foi-se espicaçando, com uma infinidade de perguntas. Quem seria aquela mulher detentora de uma beleza indiscreta? Como se chamaria? O que faria ela ali? Porque tinha ela aquele ar tão triste?

 

 

- Boa tarde! Vai desejar tomar alguma coisa? – disse-lhe.

 

 

- Boa tarde. Sim! Quero um chá! Um chá de maçã! Maçã e canela. – disse- me, pausadamente, como se mentalmente estivesse a pensar no que ia dizer, palavra por palavra, sem me dirigir o olhar.

 

 

- É tudo? – perguntei-lhe.

 

 

- É! Sabe, não me é permitido pedir-lhe mais nada. – respondeu-me, mantendo-se cabisbaixa.

 

 

- Com licença. Trago já!

 

 

Assentei o pedido, mas aquelas palavras ressoaram na minha cabeça, “não me é permitido pedir-lhe mais nada”. Mas que raio! O que quisera ela dizer com aquilo? Afinal, não era só a sua postura que levantava uma nuvem de suspeição, também a forma como ela deixava flutuar as palavras eram enigmáticas.

 

 

Enquanto preparava o chá, fui olhando para ela de soslaio. Era de facto uma mulher misteriosa.

 

 

- Aqui tem o seu chá! Se desejar mais alguma coisa…

 

 

- Obrigada! Mas, como já lhe disse, não me é permitido pedir-lhe mais nada! – retorquiu.

 

 

- Desculpe, mas não concordo nada, pode pedir-me tudo o que quiser! – disse-lhe eu num tom de brincadeira, na tentativa de lhe desfazer aquele semblante tristonho.

 

 

- Já não vou a tempo. – dito isto, tirou uma das luvas da sua mão, e puxou para junto de si a chávena de chá.

 

 

- Está com a pressa? – intrometi-me eu.

 

 

- Não! Deixei de ter pressa há muito tempo!

 

 

- Nunca a tinha visto por aqui, está de visita? – intrometi-me mais uma vez.

 

 

- De visita? Sim! Estou de visita ao passado! – quando terminou a frase olhou-me. Pela primeira vez tive contacto com os seus olhos.

 

 

- Boa visita então. – disse-lhe por fim, e retirei-me.

 

 

Que olhar tão triste, que olhar tão profundo, que olhar tão, tão familiar… Sim, aquele olhar pareceu-me estranhamente conhecido. Mas de onde? Que inquietação.

 

Voltei a olhar para ela. Que sensação estranha. A verdade é que tenho a mania de observar as pessoas, mas aquela mulher estava a tornar essa minha mania numa obsessão. Era como se quisesse descobrir tudo o que aquela pose escondia. Era como se quisesse desvendar a razão daqueles pequenos olhos não brilharem. Era como se ela própria me estivesse a pedir para a olhar. E a verdade, é que podia estar um dia inteiro a olhar para ela, que jamais me cansaria de o fazer.

 

 

Ela olhava compenetrada para a chávena, como se fosse a única coisa que existisse no mundo naquele momento. Talvez estivesse a pensar em alguém, ou simplesmente tivesse tido um dia mau e estava a reflectir sobre ele. Ou não. Ela estava ali para visitar o passado, por isso, os seus pensamentos certamente andariam a passear por esse passado.

 

 

Terminou o chá e levantou-se delicadamente, depois de deixar o dinheiro em cima da mesa. A verdade, porém, é que aquela mulher se revigorou, como se fosse outra mulher, uma mulher confiante, autodeterminada, capaz de enfrentar qualquer tempestade. Antes de sair olhou-me e sorriu-me, por fim saiu sem que eu tivesse tempo de lhe retribuir o sorriso. Mas, mais uma vez tive a sensação de que conhecia aquele sorriso de algum lugar. Aquele sorriso doce, e delicado, e ao mesmo tempo traiçoeiro.

 

 

Envolto nestes pensamentos, dirigi-me à mesa dela, peguei na chávena e no dinheiro, quando reparei que ela se tinha esquecido da luva. Peguei nela, e vi duas letras bordadas M. F. .

 

 

Madalena? Claro, aquele olhar e aquele sorriso. Como é que não a reconheci? Deixei cair a chávena que se desfez em pedaços. Corri para a porta, mas já não vi ninguém.

 

 

Voltei para o interior do salão, fiquei a olhar para a luva, e para os bocados da chávena jazidos no chão. Era agora eu, quem visitava o passado…

 

 

Durante os dias que se seguiram, esperei que ela voltasse para recuperar a luva esquecida. Mas não voltou. A vida retomou o seu rumo. E este foi mais um episódio da minha vida. Um sonho inacabado, que o tempo às vezes faz questão de me recordar.

 

 

A vida dá tantas voltas, exige-nos tanto, e as adversidades fazem-nos fortes. No entanto, somos tão frágeis se nos deixam cair.

 

Texto inspirado no desafio da Fábrica de Histórias

 

"Veja bem, nosso caso é uma porta entreaberta
Eu busquei a palavra mais
certa
Vê se entende o meu grito de alerta
Veja bem, é o amor agitando meu
coração
Há um lado carente dizendo que sim
E essa vida da gente gritando
que não"

 

 

 

 

 


 

 

 
 

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Na palma da minha mão

por ss, em 06.02.12
 
 
 
 
 

Pediu-me a mão esquerda. Eu dei-lha. Depois ficou a olhar para ela com toda a atenção possível, como quem olha para um mapa e percorre as linhas para saber onde é que aquele itinerário vai dar. Olhou-me nos olhos. Sorriu. Baixou de novo a cabeça, e voltou a olhar para a palma da minha mão. Por fim, disse: “vais ter uma vida longa. Vais começar a trabalhar tarde. Não procures o amor, porque já o conheces, e vais ter três filhos.”Tinha doze ou treze anos, e a vida nessa altura sorria-me, e por isso, ingenuamente acreditei naquelas palavras, daquela senhora, que passava as tardes sentada num banquinho, à beira da estrada, que ficava a caminho da minha escola. Não recordo, porém, o dia em que deixei de a ver.

 

Hoje, olho para a minha mão enrugada, cheia de marcas do passado, calejada, magra e inerte. Um leve sorriso espreita nos meus lábios. Olho para a linha da vida, e confirma-se. Com noventa e dois anos, posso considerar que tenho uma vida longa. Mas, depois olho para as outras linhas, e não correspondem ao presságio. E as dúvidas surgem irrequietas dentro de mim. Será que também na palma da nossa mão, se constroem novas estradas? Será que o próprio destino muda de rumo? Será que quem me leu o futuro contido na minha mão, se enganou? Ou me enganou? Será que fui eu que me enganei quando acreditei que o futuro estava traçado, e que eu apenas tinha de o seguir? Ou será que nem sequer acreditei que tinha futuro?

 

Uma lágrima surge. Outra e mais outra. O passado regressa ao presente por breves instantes e instala-se confortavelmente nas minhas lembranças. Recordo então os momentos de juventude que me foram roubados. Não. Não comecei a trabalhar tarde. Antes pelo contrário. Ainda nem tinha terminado o nono ano, quando fui obrigada pelo meu padrasto a abandonar o liceu. Tinha tantas expectativas. Tantos sonhos. Queria descobrir o mundo. O sentido das coisas. Mas tudo isso se perdeu com a morte do meu pai. Eu e a minha mãe ficámos sem nada. A minha mãe foi obrigada a casar com o primeiro pretendente que apareceu, para fugirmos da rua, da fome e da miséria. Não a culpo por isso, sei que o fez pensando que assim ficaríamos bem. Mas, a verdade é que não ficámos. Fomos reduzidas a duas escravas. Trabalhávamos nos campos, cuidávamos das hortas, tratávamos das refeições, lavávamos a roupa. Não fomos nunca, mulher e enteada, fomos meras criadas. A minha mãe morreu, tinha eu dezanove anos. A partir daí tudo mudou. A razão que me prendia àquela terra era ela, precisava de a proteger. Só por ela eu tinha aguentado aqueles anos de autêntica servidão. Sem ela a prender-me àquele lugar, pude fugir, porque sabia que ele já não poderia magoa-la mais.

 

Mais do que as dores no corpo, o que nos mata mesmo, são as dores na alma. Porque essas, não se curam com pomadas, analgésicos, ou injecções. Podem não se sentir tão ferozmente com o passar dos anos, mas quando a memória passa por lá, há sempre um calafrio que nos corre pela espinha, e a dor é imensamente indescritível de tão dolorosa que é. Ai… e o amor é perito a deixar dessas feridas que não saram.

 

Depois de deixar aquela terra, de más recordações, vim para Lisboa. Vim para a cidade, e o sonho voltava a despertar. O primeiro objectivo era encontrar um trabalho para sobreviver. Os primeiros tempos, não foram fáceis. Bati a várias portas. Mas estas mantiveram-se fechadas. Consegui sustentar-me graças às gorjetas amealhadas durante aqueles anos, que recebia nas feiras quando ia vender fruta e hortaliça. Se não fosse isso, talvez hoje não estivesse aqui, a contar a minha história.

 

Duas semanas passaram, até que, fui aceite como servente na casa de uma família considerada importante à época. Afinal, não há mal que sempre dure, e a minha vida parecia estar a endireitar-se, e seguia o seu rumo normal.

 

Mas, o vento mudou quando me apaixonei. Chamava-se Afonso, e era o filho mais novo da família “Souto de Andrade”. Só o conheci três meses depois de ter chegado àquela casa, porque ele tinha estado em Inglaterra a completar os estudos. Recordo o dia em que o vi pela primeira vez. Fui abrir-lhe a porta, e, sabem aqueles momentos que vemos nos filmes, em que tudo à nossa volta pára? Foi o que me aconteceu. Fiquei petrificada. Aqueles olhos verdes penetraram-me intensamente. Fiquei completamente embasbacada. Mas passado o choque inicial, perguntei-lhe quem era, e ele soltou uma gargalhada. Só depois percebi que aquele era o menino. O tão mencionado menino Afonso.

 

O que vos vou contar a seguir não é uma história nova e única. É simplesmente mais uma história da criada que se apaixona pelo patrão. O patrão dá-lhe esperanças, promete-lhe mundos e fundos, faz-lhe promessas de amor eterno, e no fim, deixa-a, e casa-se com alguém que pertence à mesma classe social que ele. E, fim da história.

 

Daqui resultou um coração destroçado, e impreterivelmente desfeito em mil pedaços. Nem os maus tratos do meu padrasto me magoaram tanto como este sentimento de revolta, de angústia, de desilusão, de vazio, de raiva, de ódio. Senti-me lixo, um farrapo, um objecto. E senti-me impotente, completamente fraca. Deixei de acreditar no Amor, deixei de acreditar na Cinderela, deixei de acreditar na felicidade.

 

Os sonhos voltaram a adormecer, e apenas se permitiam a incomodar-me durante a noite, porque aí, eu não os podia controlar.  

 

Quando pude, deixei aquela casa, e fui trabalhar para um Restaurante. Novamente tudo se recompôs, pelo menos aparentemente, já que a alma, ninguém a vê. Ou, quase ninguém a vê. Porque, houve alguém que encontrou a minha alma perdida por ai, e veio tentar devolvê-la ao meu corpo. Mas não é fácil, destrancar uma porta que está fechada a sete chaves, e na vida temos de fazer opções. Ou desistimos de viver, fechamo-nos no nosso mundo, e permanecemos intocáveis, e ninguém nos magoa. Ou, arriscamos e damos oportunidade a que outros entrem no nosso mundo, que o toquem, que o alterem, mas que o tornem melhor. Havendo sempre o risco de ficarmos pior do que estávamos, temos de escolher.

 

Eu fui cobarde, e não voltei a abrir mais as portas. Hoje sei que podia ter sido feliz. Aquele Homem, que reapareceu na minha vida sob a forma de Amor, tinha sido o miúdo que me chamou namorada pela primeira vez. Rejeitei-o com medo de voltar a chorar, de voltar a sofrer. Olho para o passado, e hoje, se pudesse, teria feito tudo de maneira diferente. Nada me garante que efectivamente seria feliz. Mas, a verdade é que passados estes anos todos, também não o fui.

 

A palma da minha mão não me mentiu em tudo. Eu é que dei um entendimento diferente ao que foi acontecendo na minha vida. Agi quando devia ter ficado quieta, e parei quando tinha um caminho à minha frente para onde poderia correr. Hoje, apenas permanece vincada a linha da vida, que me lembra que será longa. Mas, de que serve uma vida longa quando todas as outras linhas foram apagadas com as minhas mãos?

 

 

Texto escrito para a Fábrica de Histórias

 

 

"Don't you cry tonight

 

Don't you cry tonight

 

Don't you cry tonight

 

There's a heaven above you baby


Don't you cry, don't you ever cry

 

Don't you cry tonight

 

Baby, maybe someday

 

Don't you cry, don't you ever cry

 

Don't you cry tonight"

 

 

 

 

 

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Mudar de vida

por ss, em 13.11.11

Por vezes dou por mim a pensar como seria a minha vida se tivesse seguido outros caminhos que não este que optei seguir. Imagino-me então noutra cidade, com outros amigos, com outras realidades, com experiências diferentes certamente. No entanto, no meio de todas estas possibilidades, surge como que inevitavelmente uma pergunta: será que estaria mais feliz?

 

Tudo na vida tem pelo menos duas faces, e é por isso, que temos momentos bons e momentos menos bons. Eu estava a atravessar um momento menos bom da minha vida, quando sem esperar surgiu a oportunidade de mudar tudo isso, e simplesmente transformar todo o meu mundo envolvente num outro mundo.

 

Era sexta-feira! O último dia de uma semana desgastante, cansativa, horripilante, em que tudo de mau aconteceu. Um trabalho que não foi entregue a horas, uma frequência feita sem o tempo suficiente de estudo, uma discussão violenta com os meus pais sobre saídas, compras e dotação orçamental, e por fim, um vazio incompreensível que ia crescendo exponencialmente. Era sexta-feira e não me apetecia ir para casa, porque isso significava enfiar-me no meu quarto minúsculo e ficar impávida a olhar para quatro paredes. Por isso, preferi simplesmente caminhar, sem destino definido e sem traçar qualquer caminho mentalmente para seguir. Decidi meramente deixar as minhas pernas terem vontade própria. Deixei-as seguir o rumo que elas queriam, mas, mesmo perante esta liberdade, elas não me levaram muito longe. Levaram-me ao sítio de sempre, aquele onde me perco a pensar nos ses da vida. Sentei-me então de pernas cruzadas, e fiquei simplesmente a contemplar o horizonte. A noite já tinha caído, e não havia ninguém à minha volta. O chão estava frio, assim como era frio o vento que me tocava de mansinho na face.

 

“Apetecia-me tanto que tudo isto fosse diferente!”- pensava eu, no momento em que reparei que algo luzia ao fundo do horizonte. Era uma estrela! Uma estrela muito brilhante diferente de todas as outras. Sorri para ela, na esperança que me retribuísse o sorriso. Não retribui, ao invés disso, começou a falar comigo.

 

“Porque estás triste?”- perguntou-me.

 

Belisquei-me para ter a certeza de que não estava a dormir, senti o belisco. Comecei então a duvidar do meu estado mental, desde quando é que as estrelas falam?

 

“Não respondes? Tens medo de mim?” – retorquiu a estrela brilhante.

 

Perante esta insistência, e porque também mais ninguém me estava a ver e por isso, ninguém me ia achar maluquinha, respondi:

 

“Estou triste porque tudo na minha vida me corre mal.”

 

“Que visão tão pessimista. Eu tenho acompanhado o teu percurso e acho que não é assim tão mau.” – disse-me a estrela.

 

“Que sabes tu da minha vida? E, aliás, quem és tu?” – perguntei eu intrigada.

 

“Eu sei tudo sobre ti, e acho que devias dar mais valor ao que tens. De qualquer maneira, vim para cumprir uma missão. Reparei que estavas triste, e que querias que a tua vida fosse diferente. Pois bem, eu posso mudar a tua vida, neste instante, num segundo. Basta que mo peças agora! Mas, aviso-te desde já, que uma vez feito o pedido, não mais poderás voltar atrás.”

 

Perante isto, senti que por momentos o meu coração deixou de bater. Deixei de sentir o vento soprar-me ao ouvido, deixei de sentir o chão frio. Era como se por momentos o tempo tivesse parado, e só existisse aquele pedaço da realidade: eu, a estrela, e uma decisão a tomar.

Impulsivamente, como só eu costumo ser quando não devo, decidi sem mais:

 

“Eu quero que mudes a minha vida.”

 

E de repente o chão abriu-se debaixo de mim, e eu ia caindo vertiginosamente por um buraco profundo em espiral. À medida que ia descendo, via as imagens dos meus pais, dos meus amigos, a minha escola antiga, a minha faculdade, a minha terra, a minha nova cidade, numa espécie de película de filme. Tudo aquilo me soou a despedida.

 

Acordei numa cama de princesa. Num quarto enorme, daqueles que mais parecem um apartamento. Alguém bateu à minha porta e entrou pelo meu quarto fora:

 

“Menina, a sua mãe mandou acordá-la. Ela quer que a acompanhe às compras. O seu paizinho também a espera para tomar o pequeno-almoço.”

 

Não podia ser. Era tudo verdade. Estava numa outra vida. Tinha o quarto com que sempre tinha sonhado, com uma varanda enorme e uma vista sobre campos verdes, tinha uma empregada, e uma casa enorme. Comecei a preparar-me para descer, quando, parei junto do guarda-fatos e reparei nas fotografias colocadas nas molduras. Quem eram aqueles seres? Quem eram aquelas pessoas que me acompanhavam nos retratos? E onde estavam as fotos com os meus pais, com os meus amigos, com o meu irmão? Caí em mim, e então percebi. Estava mesmo numa outra vida. Não consegui conter as lágrimas de tristeza. Senti-me completamente perdida, apetecia-me gritar e rasgar tudo. Apetecia-me voltar atrás. Sempre que me imaginava num outro mundo fazia-o tendo sempre presentes as pessoas do meu verdadeiro mundo.

Aninhei-me nos lençóis, tapei-me e fiz um esforço para adormecer.

 

“Então dorminhoca, acorda, são horas!”

 

Era a voz da minha mãe. Uma alegria apossou-se de mim. Abracei-a como se não houvesse amanhã. Tudo não passara de um pesadelo!

 

Texto escrito para a Fábrica de Histórias

 

 

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Era uma vez... o Verão!

por ss, em 12.09.11

Meu amor,

 

Mais uma vez te escrevo numa tentativa vã de consolar esta saudade que cresce a cada dia no meu peito. Sei que partiste para longe, para tão longe que chego a duvidar que algum dia as minhas cartas chegarão até ti. Faz hoje um ano. E por vezes parece que foi ontem, pela intensidade com que me vêm à memória os acontecimentos daquele dia. Outras vezes, sinto que partiste há tanto tempo, porque a tua ausência se faz sentir a cada instante. Sinto tanto a tua falta, meu amor.

 

O nosso filho está lindo. Já diz algumas palavras, e no meio da sua descoberta, por vezes chama por ti. Tem os teus olhos, e é neles que me perco a recordar tudo o que vivemos juntos. Sabes, lembras-te de como nos conhecemos? Conto-lhe a nossa história todas as noites para ele adormecer. É a forma que tenho de lhe falar de ti.  

 

“Era uma vez um Verão, que parecia estar a acabar sem que nada de novo tivesse acontecido. Apenas uns bons dias de praia, muitas brincadeiras, noites quentes e divertidas, mas nada que alterasse a vida de Maria. Uma estação do ano prestes a terminar como tantas outras. Mas este não seria apenas mais um Verão, seria o Verão que mudaria completamente a vida de dois seres que se deixaram tocar pelo amor. Foi num fim de tarde, Maria saiu de casa depois de uma discussão com a sua mãe sobre a sua ida para a faculdade. Os pais nunca percebem que os filhos crescem e que já são capazes de tomar as suas próprias decisões. O mar pareceu-lhe o local indicado para desabafar. Afinal, quantas e quantas lágrimas não estarão ali guardadas? Maria era determinada, e não podia aceitar que não a deixassem simplesmente viver. Estava irritada, e mal-humorada. E, foi neste estado que João a encontrou enquanto corria na praia. Por momentos vacilou, não sabia o que dizer ou o que fazer. Mas depois respirou fundo e foi falar com ela.

 

“Estás bem?” – Perguntou-lhe.

“O que é que te parece? Achas que sim? Quem é que estando bem vem para aqui sentar-se a chorar?” – Respondeu Maria

“Desculpa, estava só a tentar ajudar, mas já vi o bom humor é uma característica tua!”

“Oh! Desculpa eu! Mas apetecia-me barafustar com alguém, e tu foste a primeira pessoa que apareceu.”

“Bem, acho que devias colocar um cartaz a dizer: Afastem-se!”- gracejou João. “Por acaso não queres contar-me o que se passa?”

“ Por acaso não. Quer dizer, agora não. Mas podes sentar-te. Prometo que se me apetecer bater em alguém novamente eu aviso-te, para te dar tempo para fugires.”

“E posso ao menos saber o teu nome?”

“Maria. E tu?”

“João”.

 

Depois, passaram horas à conversa. Dando a conhecer o melhor de si próprios um ao outro, entre sorrisos tímidos e palavras envergonhadas. Descobriram que estavam apaixonados, quando à noite não conseguiam adormecer, porque estavam ocupado s a visualizar aquela tarde, a recordar as frases que foram ditas, a refazer os gestos e os sorrisos. Descobriram que estavam apaixonados, e isso bastou-lhes para que daí em diante fossem uma só alma em dois corpos.”

 

Esta é a nossa história. E onde quer que estejas, seremos sempre uma só alma. Mudas-te a minha vida como nunca imaginei ser possível. Aquele foi o nosso Verão. E todos os Verões que se seguiram ao teu lado foram nossos. Cheguei a pensar que a partir do momento em que foste levado deste mundo, toda a minha vida fosse um constante Inverno. Mas, tu ensinaste-me que é preciso sentir, que é preciso amar, e aproveitar cada momento. E hoje é Verão, porque sei que estarás sempre perto de nós.

 

                                                                                                                              Maria

 

 

Texto escrito para a Fábrica de Histórias

 

 

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