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Sei lá! A vida é uma rota discricionária e repleta de contradições. Assim, tentar defini-la seria tarefa impossível. Por isso, resta-me vivê-la, na esperança de um dia descobrir (finalmente!) o seu significado…
Meu amor,
Mais uma vez te escrevo numa tentativa vã de consolar esta saudade que cresce a cada dia no meu peito. Sei que partiste para longe, para tão longe que chego a duvidar que algum dia as minhas cartas chegarão até ti. Faz hoje um ano. E por vezes parece que foi ontem, pela intensidade com que me vêm à memória os acontecimentos daquele dia. Outras vezes, sinto que partiste há tanto tempo, porque a tua ausência se faz sentir a cada instante. Sinto tanto a tua falta, meu amor.
O nosso filho está lindo. Já diz algumas palavras, e no meio da sua descoberta, por vezes chama por ti. Tem os teus olhos, e é neles que me perco a recordar tudo o que vivemos juntos. Sabes, lembras-te de como nos conhecemos? Conto-lhe a nossa história todas as noites para ele adormecer. É a forma que tenho de lhe falar de ti.
“Era uma vez um Verão, que parecia estar a acabar sem que nada de novo tivesse acontecido. Apenas uns bons dias de praia, muitas brincadeiras, noites quentes e divertidas, mas nada que alterasse a vida de Maria. Uma estação do ano prestes a terminar como tantas outras. Mas este não seria apenas mais um Verão, seria o Verão que mudaria completamente a vida de dois seres que se deixaram tocar pelo amor. Foi num fim de tarde, Maria saiu de casa depois de uma discussão com a sua mãe sobre a sua ida para a faculdade. Os pais nunca percebem que os filhos crescem e que já são capazes de tomar as suas próprias decisões. O mar pareceu-lhe o local indicado para desabafar. Afinal, quantas e quantas lágrimas não estarão ali guardadas? Maria era determinada, e não podia aceitar que não a deixassem simplesmente viver. Estava irritada, e mal-humorada. E, foi neste estado que João a encontrou enquanto corria na praia. Por momentos vacilou, não sabia o que dizer ou o que fazer. Mas depois respirou fundo e foi falar com ela.
“Estás bem?” – Perguntou-lhe.
“O que é que te parece? Achas que sim? Quem é que estando bem vem para aqui sentar-se a chorar?” – Respondeu Maria
“Desculpa, estava só a tentar ajudar, mas já vi o bom humor é uma característica tua!”
“Oh! Desculpa eu! Mas apetecia-me barafustar com alguém, e tu foste a primeira pessoa que apareceu.”
“Bem, acho que devias colocar um cartaz a dizer: Afastem-se!”- gracejou João. “Por acaso não queres contar-me o que se passa?”
“ Por acaso não. Quer dizer, agora não. Mas podes sentar-te. Prometo que se me apetecer bater em alguém novamente eu aviso-te, para te dar tempo para fugires.”
“E posso ao menos saber o teu nome?”
“Maria. E tu?”
“João”.
Depois, passaram horas à conversa. Dando a conhecer o melhor de si próprios um ao outro, entre sorrisos tímidos e palavras envergonhadas. Descobriram que estavam apaixonados, quando à noite não conseguiam adormecer, porque estavam ocupado s a visualizar aquela tarde, a recordar as frases que foram ditas, a refazer os gestos e os sorrisos. Descobriram que estavam apaixonados, e isso bastou-lhes para que daí em diante fossem uma só alma em dois corpos.”
Esta é a nossa história. E onde quer que estejas, seremos sempre uma só alma. Mudas-te a minha vida como nunca imaginei ser possível. Aquele foi o nosso Verão. E todos os Verões que se seguiram ao teu lado foram nossos. Cheguei a pensar que a partir do momento em que foste levado deste mundo, toda a minha vida fosse um constante Inverno. Mas, tu ensinaste-me que é preciso sentir, que é preciso amar, e aproveitar cada momento. E hoje é Verão, porque sei que estarás sempre perto de nós.
Maria
Texto escrito para a Fábrica de Histórias
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